Sim, leu bem, a Herdade da Malhadinha Nova estende-se por 455 campos de futebol, em pleno Alentejo. Isso significa que por mais que utilize todos os recursos ao seu dispor para explorar a herdade - moto4, cavalo, bicicleta ou buggy - dificilmente conhecerá os cantos à casa numa semana de estadia. O que começou por ser um terreno com algumas ruínas, comprado pela família Soares em 1998, tornou-se hoje num dos mais bem cuidados pedaços de terra alentejana. Aqui vivem livremente 50 porcos pretos, 150 vacas alentejanas, 300 ovelhas merina brancas e pretas, 30 cavalos Puro Sangue Lusitano, 60 hectares de olival tradicional com mais de 50 anos e 80 hectares de vinha. Há ainda cinco casas para alojamento, uma casa de família, um restaurante e a adega.
Casa do Ancoradouro, Casa das Artes e Ofícios, Casa da Ribeira, Casa das Pedras e Venda Grande. São estes os nomes das novas villas da Herdade da Malhadinha Nova, cada uma com o seu charme, identidade e características. A Casa do Ancoradouro, com sete suítes, é uma casa dedicada à terracota, dando destaque a este material desde o chão aos serviços de louça. A Casa Artes e Ofícios, tem duas suítes numa mezzanine, uma sala de pé direito imponente e paredes em argila verde. Tudo nesta casa tem um cariz social, dos candeeiros às cerâmicas ou mesmo as obras do projeto social e cultural Manicómio. Na Casa das Pedras, a arquiteta Joana Raposo desenhou um edifício com quatro suítes independentes, cujo tom dourado as confunde com as cores da paisagem circundante. A Casa da Ribeira, com três suítes, inspirou-se na Ribeira de Terges, refletida na serenidade do azul e do cinzento. O longo corredor que guia até aos quartos, e a exposição solar, revelam a beleza das paredes caiadas, uma prática tradicional herdada dos muçulmanos.
As ruínas espalhadas pela herdade do Ancoradouro, que a família Soares adquiriu em 2008, contam muitas histórias sobre a região. Uma delas deu origem à Casa Artes e Ofícios, erguida junto à Ribeira de Terges e onde no passado os aldeões de Albernoa costumavam fazer pão e lavar roupa. Também em cada casa o legado alentejano está presente, com a recuperação de mobiliário antigo, como as alfeitarias, bidões de azeite, quadros de partituras de conservatória ou pianos centenários. Rita Soares é uma apaixonada por design de interiores e adora visitar casas velhas e abandonadas, descobrir o que cada espaço conta, quem lá viveu, o que os objectos narram. É também ela que regularmente visita os artesãos dos arredores, seja António Mestre, o exímio oleiro de Beringel, seja a arte do buinho, uma planta autóctone usada para cestaria e que aqui ganha formatos mais contemporâneos numa parceria com designers atuais, seja a arte de coser à mão as botas alentejanas de Mário Grilo, candidata a umas das Sete Maravilhas Culturais de Portugal.
Agosto traz uma altura mágica ao processo vitivinícola: a vindima. Apesar dos cuidados e atenção à vinha serem um trabalho contínuo ao longo de todo o ano, é nesta altura que há maior azáfama na Malhadinha Nova e nas quintas e herdades alentejanas em geral. Os hóspedes podem juntar-se a este momento de uma forma muito especial. A vindima na Malhadinha Nova é nocturna, o que significa que para participar deste momento, é preciso ser madrugador. Quatro, cinco ou sete da manhã são algumas das horas possíveis para se juntar aos trabalhadores na poda e participar no enchimentos dos cestos de 12 quilos de uva que seguem posteriormente para a adega. A Malhadinha dá-lhe tudo o que precisa: o kit vindima (50€) inclui tesoura de poda, água, lanterna, mochila, t-shirt e outros items que o preparam para um momento único. Como a cadeia de acontecimentos não termina aqui, ainda é possível pisar uvas nos lagares ou seleccionar os melhores cachos na mesa de escolha.
Vitalina Santos é uma cozinheira de mão e é ela a responsável pelo receituário mais tradicional da Malhadinha Nova. Em conjunto com o chefe residente Rodrigo Madeira e o chefe consultor Joachim Koerper, formam a trilogia que garante os melhores momentos gastronómicos. Além do restaurante, do serviço chefe na villa ou da possibilidade de fazer um menu degustação no conforto dos quartos, o hóspede da Malhadinha também pode pôr, literalmente, as mãos na massa, e aprender a fazer pão alentejano, pão com chouriço ou, uma das grandes especialidades de Vitalina, a sericaia alentejana. No balcão do Country-House ou do Ancoradouro, com a herdade como pano de fundo por trás da cozinha de showcooking, todo um mundo de possibilidades culinárias se abre. Migas, Ovos com Farinheiras, Carne de Porco Alentejana, são alguns pratos tradicionais, mas o leque de receituário e atividades nunca se esgota. É possível, por exemplo, ir pescar com o chefe Rodrigo Madeira à Ribeira de Terges, apanhar uns belos achigãs, aprender a fazer filetes deste peixe de rio e terminar na mesa, com uma receita confecionada por si.
É fácil perceber que numa extensão de terreno imponente como aquela que a Herdade da Malhadinha Nova se tornou nos últimos 22 anos, a natureza é a palavra de ordem. Quem optar por uma estadia com máxima privacidade, consegue não se cruzar com ninguém durante dias a fio, um luxo muito requisitado num momento de pandemia como o que vivemos. O ar livre, a natureza, os aromas e cores do Alentejo tornam este lugar único. Os cheiros das azinheiras, da esteva, da alfazema, da hortelã, do poejo, tudo flora endógena e em abundância na herdade, inebriam os sentidos. Além dos animais de pecuária, há muita fauna selvagem que torna este lugar idílico ainda mais autêntico: as raposas, perdizes, saca-rabos, grous, artardas, vivem livremente na Malhadinha Nova. E se o dia é revelador de todo este potencial telúrico e natural, a noite traz dádivas que poucos habitantes da cidade podem gabar-se de conhecer: o cosmos pintado de astros, as estrelas cadentes, o silêncio pacífico.
Mais do que nunca, 2020 trouxe consigo desafios e mudanças imprevisíveis. Muito pode ser feito na procura de melhorar o panorama atual - a Malhadinha Nova foi das primeiras a doar 25.000€ através da Campanha AMA no combate à COVID-19 -, mas pequenos gestos são essenciais e determinantes na recuperação da economia nacional. Consumir português e praticar a velha máxima “vá para fora cá dentro”, é um deles. A Malhadinha Nova é um projeto de três gerações, familiar e português, responsável pela recuperação e dinamização do interior, que prioriza a agricultura biológica e a pecuária em regime extensivo numa busca incessante pela sustentabilidade e preocupação ambiental. Ao longo de duas décadas de existência, a Malhadinha Nova colocou Beja e o Alentejo no mapa com os seus vinhos premiados e elogiados internacionalmente. Apoia projetos e artesãos portugueses, promovendo técnicas ancestrais de olaria, tecelagem, marcenaria, entre outros ofícios, preservando materiais autóctones como a argila e o buinho.